É da natureza humana mentir?
A pergunta se impõe para discutirmos a mentira no contexto
político. Todos sabemos que é da natureza humana mentir, enganar, trair, como
também é da natureza humana amar, odiar, gostar, adorar, exigir, pedir,
reivindicar.
Como diz o poeta, também indagamos: “Existirmos, a que será
que destina?” Destina-se a viver com dignidade, sobriedade, compreensão mútua,
harmonia social e apego aos próximos.
Nestes tempos negros de inflação, desapego à condução da
coisa pública e, por isso mesmo, descrédito com relação às instituições
políticas, o homem, ou melhor, a pessoa humana chega a envergonhar-se de ser
gente ao se olhar no espelho e notar-se inútil, frágil, um ser menor diante da
inoperância das autoridades.
Vergonha, sim, porque, como um pai de família que não detém
mais o pátrio poder, o cidadão chega a ter vergonha de ser honesto, como dizia
Rui Barbosa, no limiar da corrupção política.
Mentir, voltemos ao início, mentir com a cara mais limpa do
mundo é normal. É isso que notamos ao assistirmos aos programas da propaganda
política. Descaradamente, alguns inventam obras que sequer começaram. Outros
desfilam obras e serviços, uma ou duas, quando nosso estado, secularmente
carente, necessitado, pedinte, envergonhado, vilipendiado, carece de soluções
urgentes para a miséria social que assola as nossas casas, vilas e favelas.
É bom que os marqueteiros limpem a vista dos seus candidatos
e não tropecem mais na escuridão moral imposta nos programas televisivos.
Cegos, na mediocridade da mentira e na esperteza nunca vista, jogam terra nos
olhos da população. Parece que aprenderam a lição hitlerista e dos primeiros
propagandistas de repetir uma mentira milhares de vezes até que ela se
transforme em verdade.
O Brasil e o Piauí que vemos na televisão não são o Brasil e
o Piauí que vivenciamos nas nossas casas e nas nossas ruas e avenidas. Um
Brasil e um Piauí colorido pela capacidade persuasiva da publicidade. Aristóteles
teria vergonha de tal capacidade argumentativa e Rui deve estar se estremecendo
no túmulo aos constatar que nosso povo amarga a cegueira moral da mediocridade
contemporânea.
Editorial do Jornal
da Teresina 2ª Edição de 05.09.14
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