Não queremos entrar no mérito da questão, mas não podemos permanecer calados diante da soltura do policial paulista que matou na quinta-feira (18) um camelô piauiense durante tumulto entre vendedores ambulantes e representantes da força pública. Ele foi solto por autorização de uma juíza que, no exercício de suas funções, expôs os motivos da decisão, justificando a opção e determinando que o PM preso em flagrante cumpra algumas ordens como prestar informações sobre suas atividades diárias.
O que nos interessa é refletir. Refletir sobre a conduta individual
desse policial - que já responde por outro assassinato cometido em março deste
ano - e a ordem social. Não vamos também comentar sobre esse crime porque não
temos elementos comprobatórios ou convincentes para discutirmos o assunto.
Representante da força pública, os policiais, inclusive
Henrique Dias, acusado de matar o camelô Carlos Augusto Muniz Braga, natural de
Simplício Mendes, agiam em defesa de uma certa ordem que determina a apreensão
de produtos pirateados. É preciso que cumpramos a lei e a sociedade precisa de
ordem, de ordem e progresso, como está escrito na Bandeira Nacional, uma
inspiração na filosofia positivista.
Que ordem, se a desordem social invade as nossas
residências? Que ordem, se o desemprego sufoca pais e mães de famílias? Que
ordem, se o nosso sertanejo é obrigado fugir do seu canto para se aventurar na
Paulicéia Desvairada? Que ordem, se a nossa representação política nos
envergonha e impõe descrédito nas instituições democráticas? Que ordem, se a
educação que temos emperra o progresso e caminhamos a passos de caranguejo.
A ordem pública e a lei que o policial matador cumpria é
meramente um ajuntamento de palavras, uma mistificação, uma ficção. Não há
ordem pública quando um simples trabalhador se exaspera e tenta tomar um spray
de pimenta do policial, que é uma atitude extremamente equivocada, e este
policial, espantado, estressado, atira no atrapalhado trabalhador desarmado.
Atira na cabeça. Não precisa dizer que é para matar!
Trabalhador desempregado é bandido? Ou é bandido quem atira
em trabalhador desempregado, que obrigado a vender produtos pirateados para
sustentar a família?
Precisamos construir uma nova ordem pública e social, uma
nova ordem econômica, uma nova ordem política, uma nova ordem educacional.
Editorial do Jornal
da Teresina 2ª Edição de 23.09.14
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