A Coordenadoria de Comunicação do Estado confirmou ontem que
o governo fechou acordo com a Associação das Vítimas e Amigos de Vítimas da
Barragem de Algodões (Avaba) para pagamento do débito atrasado, em 12 parcelas
mensais e sucessivas, a serem depositadas diretamente na conta individual dos
beneficiários. Já não era sem tempo. São cerca de R$ 3,2 milhões relativos ao
pagamento de pensões alimentícias das 499 famílias atingidas.
O reservatório da barragem, no rio Pirangi, em Cocal, na
região de Parnaíba, armazenava 52 milhões de metros cúbicos de água e ficou
praticamente seco. Uma onda de pelo menos 20 metros de altura se
formou. O relógio mercada quatro horas da tarde do dia 27 de maio de 2009.
A forte chuva que caía no Ceará, onde se situa a cabeceira
do Pirangi, precipitou a explosão que atingiu pelo menos 800 famílias
residentes na margem do rio. Propriedades inteiras foram destruídas pela fúria
das águas. Casas, animais, plantações e pessoas foram dizimadas. Dados oficiais
sinalizam para a morte de 15 pessoas, mas pelo menos 40 morreram, segundo a
associação das vítimas.
Tem gente que adquiriu doenças, como a depressão, dentre
outras, por causa do alagamento.
A barragem foi construída entre duas serras. Duas semanas
antes, chegou a alertar, ao transbordar pela primeira vez, provocando erosão de
um quilômetro entre o sangradouro e a represa. Moradores em povoados numa
extensão de 100
quilômetros , em três municípios, foram retirados do local
e conduzidos para abrigos. Após as águas baixarem foram autorizados a voltar.
Para morrer.
É certo que a severidade das águas era muito grande em
decorrência das chuvas no Ceará, onde nasce o Pirangi, mas o que sobressai como
alerta é que, segundo se publicou na época, a barragem não passava por
manutenção. Daí a responsabilidade para a prevenção de acidentes desse tipo.
Mesmo que o Estado desembolse montanhas de dinheiro, ninguém
vai trazer de volta as pessoas que morreram na tragédia.
Corrige parte da injustiça, apenas.
Não corrige a sombra da morte, como não conserta uma das
maiores injustiças: a pobreza e a miséria.
E foi para reduzir os efeitos da seca que traz a pobreza e a
miséria que a barragem foi edificada, mas terminou matando trabalhadores, crianças
e idosos.
Domingos Bezerra
Filho
Editorial do Jornal
da Teresina 2ª Edição de 05.03.15
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