Estamos de olho no Brasil |
“A literatura e a política (...) cingiram
como uma dupla púrpura de glória e de martírio os vultos luminosos da nossa
história de ontem. A política elevando as cabeças eminentes da literatura, e a
poesia santificando com suas inspirações atrevidas as vítimas das agitações
revolucionárias, é a manifestação eloqüente de uma raça heróica que lutava
contra a indiferença da época, sob o peso das medidas despóticas de um governo
absoluto e bárbaro”. Esta talvez seja a segunda vez que resgato as palavras
acima, de Machado de Assis, publicadas em artigo de abril de 1858, em A Marmota (RJ).
Transponho tais impressões para o
campo político, com o intuito de mirar o que está às vistas de todos,
descortinar o presente caótico da dita sociedade civilizada atual, em que
rebeliões em presídios, invasão de órgãos públicos, corrupção desenfreada nas
várias esferas dos poderes constituídos, destruição de recursos naturais,
prostituição de menores, trabalho escravo etc são diariamente noticiadas pela
mídia.
Mas, por que Machado de Assis num
momento histórico em que se clama por transformações profundas nos costumes
políticos? Por que Machado de Assis num estágio de falência do poder estatal -
entendida tal falência como a desistência ou a incompetência de o Estado
resolver os problemas gerais do povo?
Machado revive, aqui e agora,
para nos lembrar que não existem mais heróis, salvadores da Pátria, santos ou
deuses! Diabos e bandidos multiplicam-se! Manhosos e espertalhões acotovelam-se
nos corredores das repartições públicas. Manhosas e espertalhonas são as
sanguessugas do erário, presentes na história deste país desde épocas remotas.
Machado de Assis retorna para
propiciar a oportunidade de reflexões em torno do compromisso assumido pelas
autoridades para com a coisa pública, a administração dos bens públicos. E os
bens públicos não são unicamente o dinheiro, a terra e a água, a fauna e a
flora, o patrimônio material dos órgãos públicos. Os bens públicos maiores são
a consciência e a alma nacionais, a fé no futuro, o esforço de gerações na
construção da nação, agredida na sua ex-inocente indiferença.
E o país é rico! Condições
naturais há para desenvolvê-lo. Gente há com vontade e necessidade de trabalhar.
Somos um povo acolhedor, pacato, humanitário, trabalhador, cordial. Precisamos
resgatar virtudes, compromissos e valores de que carecemos e adotar medidas para
a construção efetiva da nação.
Temos pressa. O país deve retomar
o percurso histórico sonhado pelos maiores dos seus heróis.
Além dessa responsabilidade
histórica, a nação há de resgatar os valores morais perdidos na insensatez dos
tempos modernos. A nação precisa se regenerar, construir, como dizia Machado,
“a união do desinteresse, do patriotismo e das virtudes humanitárias”.
Domingos Bezerra Filho
Editorial do Jornal da Teresina 2ª Edição de 17.03.15
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