quinta-feira, 5 de março de 2015

Governo faz acordo para pagar vítimas da Barragem de Algodões

A Coordenadoria de Comunicação do Estado confirmou ontem que o governo fechou acordo com a Associação das Vítimas e Amigos de Vítimas da Barragem de Algodões (Avaba) para pagamento do débito atrasado, em 12 parcelas mensais e sucessivas, a serem depositadas diretamente na conta individual dos beneficiários. Já não era sem tempo. São cerca de R$ 3,2 milhões relativos ao pagamento de pensões alimentícias das 499 famílias atingidas.

O reservatório da barragem, no rio Pirangi, em Cocal, na região de Parnaíba, armazenava 52 milhões de metros cúbicos de água e ficou praticamente seco. Uma onda de pelo menos 20 metros de altura se formou. O relógio mercada quatro horas da tarde do dia 27 de maio de 2009.

A forte chuva que caía no Ceará, onde se situa a cabeceira do Pirangi, precipitou a explosão que atingiu pelo menos 800 famílias residentes na margem do rio. Propriedades inteiras foram destruídas pela fúria das águas. Casas, animais, plantações e pessoas foram dizimadas. Dados oficiais sinalizam para a morte de 15 pessoas, mas pelo menos 40 morreram, segundo a associação das vítimas.

Tem gente que adquiriu doenças, como a depressão, dentre outras, por causa do alagamento.

A barragem foi construída entre duas serras. Duas semanas antes, chegou a alertar, ao transbordar pela primeira vez, provocando erosão de um quilômetro entre o sangradouro e a represa. Moradores em povoados numa extensão de 100 quilômetros, em três municípios, foram retirados do local e conduzidos para abrigos. Após as águas baixarem foram autorizados a voltar. Para morrer.

É certo que a severidade das águas era muito grande em decorrência das chuvas no Ceará, onde nasce o Pirangi, mas o que sobressai como alerta é que, segundo se publicou na época, a barragem não passava por manutenção. Daí a responsabilidade para a prevenção de acidentes desse tipo.

Mesmo que o Estado desembolse montanhas de dinheiro, ninguém vai trazer de volta as pessoas que morreram na tragédia.

Corrige parte da injustiça, apenas.

Não corrige a sombra da morte, como não conserta uma das maiores injustiças: a pobreza e a miséria.

E foi para reduzir os efeitos da seca que traz a pobreza e a miséria que a barragem foi edificada, mas terminou matando trabalhadores, crianças e idosos.

Domingos Bezerra Filho

Editorial do Jornal da Teresina 2ª Edição de 05.03.15



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