terça-feira, 23 de setembro de 2014

A morte do camelô piauiense em São Paulo e a necessidade de uma nova ordem


Não queremos entrar no mérito da questão, mas não podemos permanecer calados diante da soltura do policial paulista que matou na quinta-feira (18) um camelô piauiense durante tumulto entre vendedores ambulantes e representantes da força pública. Ele foi solto por autorização de uma juíza que, no exercício de suas funções, expôs os motivos da decisão, justificando a opção e determinando que o PM preso em flagrante cumpra algumas ordens como prestar informações sobre suas atividades diárias.

O que nos interessa é refletir. Refletir sobre a conduta individual desse policial - que já responde por outro assassinato cometido em março deste ano - e a ordem social. Não vamos também comentar sobre esse crime porque não temos elementos comprobatórios ou convincentes para discutirmos o assunto.

Representante da força pública, os policiais, inclusive Henrique Dias, acusado de matar o camelô Carlos Augusto Muniz Braga, natural de Simplício Mendes, agiam em defesa de uma certa ordem que determina a apreensão de produtos pirateados. É preciso que cumpramos a lei e a sociedade precisa de ordem, de ordem e progresso, como está escrito na Bandeira Nacional, uma inspiração na filosofia positivista.

Que ordem, se a desordem social invade as nossas residências? Que ordem, se o desemprego sufoca pais e mães de famílias? Que ordem, se o nosso sertanejo é obrigado fugir do seu canto para se aventurar na Paulicéia Desvairada? Que ordem, se a nossa representação política nos envergonha e impõe descrédito nas instituições democráticas? Que ordem, se a educação que temos emperra o progresso e caminhamos a passos de caranguejo.

A ordem pública e a lei que o policial matador cumpria é meramente um ajuntamento de palavras, uma mistificação, uma ficção. Não há ordem pública quando um simples trabalhador se exaspera e tenta tomar um spray de pimenta do policial, que é uma atitude extremamente equivocada, e este policial, espantado, estressado, atira no atrapalhado trabalhador desarmado. Atira na cabeça. Não precisa dizer que é para matar!

Trabalhador desempregado é bandido? Ou é bandido quem atira em trabalhador desempregado, que obrigado a vender produtos pirateados para sustentar a família?

Precisamos construir uma nova ordem pública e social, uma nova ordem econômica, uma nova ordem política, uma nova ordem educacional.

Editorial do Jornal da Teresina 2ª Edição de 23.09.14



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