sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cultura achada no lixo

O Piauí dá exemplo, e não só o nosso estado, mas outros também, de superação, de força de vontade, de luta, na tentativa de vencer as tempestades da vida.

E mesmo sem haver tempestades, o pobre piauiense – o pobre brasileiro de modo geral – vence, sim, as dificuldades que lhe impõem os donos do poder. Por que donos do poder? Porque a justiça, não só a justiça do Poder Judiciário, é manipulada pelos poderosos de plantão. Todos vocês sabem quem são os poderosos de plantão.

Qual o porquê desta introdução meio revoltada? É sobre livros, mais uma vez, que falamos. É sobre cultura e educação, mais uma vez, que escrevemos.

Mãe piauiense informou à mídia – de novo a mídia, que está em todo lugar, especialmente na sua vida – que pegava livros no lixo para seu filho estudar. Ele passou no vestibular. Esse funil afuniladíssimo por onde os pobres passam com extremas dificuldades.

Livros no lixo? Sim, livros no lixo. Será se você já despejou livros no lixo? Eu já os depositei em alguma época da minha vida por causa da necessidade. Não fui obrigado a despejar livros no lixo, fui obrigado a tomar atitudes bruscas, imediatas sob pena de outros prejuízos.

Jogar livros no lixo não é crime, mas é uma atitude reprovável, eternamente reprovável. Livro é alimento. Alimento para a alma, para o espírito, para a mente. Livro é alimento vital para a transformação da vida, para a transformação do estado, para a revolução social e econômica do país.

Quem despeja livro no lixo está contribuindo para a corrupção, para o aprofundamento da pobreza e da miséria, da injustiça, da escravidão humana.

Quantas pessoas não estão necessitando de livros nesta hora? Necessitar de livros é semelhante a precisar de um pedaço de pão. E os corruptos que surrupiam o dinheiro do povo estão a roubar um naco de pão da criança pobre que mora em casebres na periferia das cidades, nos guetos, nas vilas, nas favelas, sem direito a sonhar, sem direito a constituir uma família, sem direito a construir sua vida.

Entretanto, com seu egoísmo e seu descompromisso social, quem deposita livro no lixo contribui, sem o saber, para a ampliação do conhecimento do pobre, porque este vai lá, ao depósito de livro e toma dele as ricas palavras que oferecerão condições de mover-se social e economicamente. Sem o saber, o egoísta, ajuda a fabricar mais um doutor.

E quantos estão por aí a necessitar de livros?

Quem quiser jogar livros no lixo, lembre-se de que alguém, em algum lugar do mundo, está a mirar o futuro e saberá que ele, o egoísta, é um péssimo exemplo de gestor, um péssimo exemplo de irmão, um péssimo exemplo de pai, um péssimo exemplo de cidadão.

Como dizia Castro Alves: “bendito o que semeia livros e manda o povo pensar”.

Domingos Bezerra Filho

Editorial do Jornal da Teresina 2ª Edição de 27.02.15



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