O avanço da criminalidade e da violência em Teresina vem
mexendo com a tranqüilidade e os costumes dos moradores da cidade. O antigo
hábito de sentar-se à porta de casa para conversar, à noitinha, não é tão comum
como o era há cerca de 20 anos ou 30 anos.
A luta oficial no combate à epidemia social da
criminalidade, uma doença fruto da peste emocional do mundo contemporâneo, tem
sido inócua, não produz os efeitos esperados em que pese o esforço desenvolvido
pelos Poderes Executivo e Judiciário, além do Ministério Público. A Assembleia
Legislativa pouco tem se manifestado.
O problema é sério e exige a efetiva ação da sociedade
civil, como temos sugerido aqui, exatamente pelo fato de que as iniciativas,
com prisão de criminosos e outras ações, não são suficientes para reduzir os
prejuízos materiais, emocionais, financeiros, morais, éticos que a onda de
violência deixa no seu rastro.
A sociedade civil, preocupada, começa a esboçar as primeiras
reações no sentido de discutir o tema, como se propõe o grupo auto-intitulado
Pense Piauí, integrado por autoridades e personalidades de vários segmentos
sociais, entre as quais o desembargador Edvaldo Moura e o juiz Carlos Brandão.
Anuncia-se para abril ou maio o início de uma série de
palestras para discutir a violência, tendo acertada a vinda do secretário da
Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Maria Beltrame. Já não era sem tempo.
Os múltiplos aspectos indicam ser necessária a discussão com especialistas.
Faz-se imprescindível tomada de decisão urgente na caça aos
traficantes, na formatação de novo padrão jurídico, na construção de novas
políticas para o tratamento da coisa pública, na assistência social aos mais
carentes e humildes, na construção de uma escola sadia em que a comunidade
escolar se refaça e se renove, na difusão de valores morais e éticos que possam
fazer frente à peste que hoje consome boa parte das mentes dos cidadãos, muitos
dos quais valorizam mais o ter e pouco ou quase nada o ser.
As discussões em torno da violência e da criminalidade devem
conter as tentativas de reconstrução da família brasileira, ameaçada pelo poder
excessivo do capital, através do qual a dignidade humana, o respeito ao
próximo, a solidariedade, o espírito de companheirismo são apenas um amontoado
de palavras, distantes da realidade íntima de cada um.
Domingos Bezerra
Filho
Editorial do Jornal da Teresina 2ª Edição de 16.02.15
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